PENÍNSULA IBÉRICA
Terra da Ibéria.
Terra de Portugal e Espanha, do Algarve, da Catalunha.
Terra do Tejo, Minho e Douro, que lambem o chão, contemplam os céus, e curtem a tristeza das casas de fado, e a crueldade das “Plazas de Toros”.
Terra dos santos Reis e das Rainhas santas.
Terra de Camões, Cervantes, Dali e Picasso
Terra das caravelas que singraram “mares nunca dantes navegados”.
Terra das velhas raposas colonialistas, caçadoras das minas de ouro em novos ninhos ultramarinos.
Terra do fado e do flamenco, as raízes multiculturais de muitos povos.
Terra dos cravos revolucionários e das rosas pacificadoras.
Terra de sol de calor de mais vida de mais amor.
Terra de campos com mais árvores, árvores com mais flores, flores com mais perfume, e com frutos com mais sabor.
Ah, não quero a Torre de Belém,
Os balneários de Cascais e Estoril,
A Costa do Sol
Nem as touradas de Madri.
Não quero a Torre de Hércules,
Os arcos góticos,
A pintura barroca,
As pontes romanas
Nem o estilo manuelino.
Não quero a Torre do Ouro,
O Pórtico da Glória,
O ouro brasileiro dos altares maiores
Nem o turíbulo e o insenso que elevam os olhos e os corações na Basílica compostelana.
Não quero o Tiago guerreiro,
Os quadros de Picasso e de Velásquez,
As espadas de Toledo,
A dupla cruz dos Prelados
Nem o esplendor suspenso dos chapéus dos Purpurados.
Quero, sim, a nostalgia do luar da Península,
Os pastéis de Belém,
O velho Alfama,
O Tiago Apóstolo,
O bastão dos peregrinos,
O relógio de flores,
As carrancas zoomórficas que espantam males,
Os ninhos de cegonhas nas torres das catedrais,
O corte das crinas dos cavalos selvagens de Vigo,
O canto das gaivotas
E o fungado das gaitas de fole.
Quero o centeio de Castella,
Os girassóis da Andaluzia,
Os arrozais de Valência,
As “tapas”, os “pollos”e as “tortillas”,
A “Plaza Maior”, coração de Salamanca,
As cantigas de amor dos trovadores que vendem “ojos negros e traicioneros”,
As figuras grotescas da Avenida “La Rambla”
E a calma das águas, a leveza da brisa, e as dores dos amores de Dolores Sierra, no cais do Porto de Barcelona.
No Caminho de São Tiago, passos cansam corpos e descansam almas.
Em São Tiago de Compostela, tudo é sempre alfa, princípio sempre, porque tudo se faz novo, e a vida se renova no topo do pouso do gozo.
O sol declina.
A lua aparece.
As flores dormem.
Os pássaros arribam.
As castanholas choram.
A saudade dóe
O coração não sofre, porque tanto dá tanto amor.
O ônibus chega.
O telefone toca.
E “a história se encerra.
Adeus, Barcelona, Adeus!
Pedro Cadeira de Araújo, julho de 2004
FOTO: cidade de Barcelona